Ao longo dos tempos vão-se firmando na mente das pessoas e dos povos um conjunto de ideias que são resultantes do pensamento filosófico, das doutrinas religiosas, das ideologias políticas e do conhecimento científico. Muitas destas ideias constituem “modas” em determinadas épocas até que aparecem outras que as substituem ou até que a experiência da vida e das coisas as modificam, excluem ou adequam.
Mudar ideias feitas, “verdades” históricas oficiais ou “certezas” politicamente correctas é, pois, um trabalho hercúleo.
E é muito mais conforme à natureza humana dar-se ao preconceito, ao interesse pessoal e à inveja do que saber ouvir, manter espírito aberto e boa intenção. E devemos ter presente que a coragem moral, muito mais que a coragem física, é uma das qualidades que está para o homo sapiens, como os gases raros estão para a atmosfera… Algumas ideias menos adequadas dominam grande parte das mentes, ou nem sequer passam pela cabeça de muitas outras como sejam a de que a Economia não é um fim em si mesma, pois deve obedecer a uma política e ser instrumento da Estratégia; o mesmo se passa com a Democracia, que é apenas um meio para se tentar atingir as aspirações utópicas da Humanidade quanto a Segurança, Justiça e Bem Estar.
Também existe a convicção de que o dinheiro comanda a vida, o que não é verdade. O que parece mais certo é que as ideias lideram a vida e o dinheiro segue as ideias. E entre as ideias, a ideia religiosa é ainda aquela mais forte, como os últimos acontecimentos no mundo não deixam margem para dúvida. Os exemplos podiam-se multiplicar.
Ora é por causa da importância das ideias que pretendo trazer à ribalta aqui no meu blog pessoal ( parece-me que só eu leio ) três questões que estão determinantemente a influenciar a vida nos estados nações ocidentais, sobretudo os europeus.
São elas:
- A Teoria do Bom Selvagem;
- A Doutrina do Relativismo Moral;
- A Teoria da repartição dos ovos, por diferentes cestos.
Vou tentar analisar, sucintamente, cada uma delas.
A Teoria do “bom selvagem” tem origem na Revolução Francesa e é seu principal teorizador Jean Jacques Rosseau (entre outras coisas, Antropólogo). Um dos postulados mais importantes desta teoria é a de que “todos os homens nascem livres e iguais” e são, por natureza, bons e bem formados. A sociedade é que os estraga, depois.
Pode-se concluir, pois, que a sociedade – um ente sempre mal definido -, é que é culpada de tudo o que acontece.
Logo, nós deveremos ser benevolentes, na apreciação das faltas e incidir o nosso esforço não na imposição de penas e castigos mas sim na prevenção e na recuperação dos que se desviam do bom caminho.
Aplicada em sentido lato, esta teoria leva à desresponsabilização dos actos. O que se passa com o combate à droga ilustra à evidência o que estamos a narrar ( não será próprio integrar ai as questões do consumo )
A influência mais notória destas ideias, no presente, faz-se sentir nas áreas do ensino, da justiça e no modo de actuar dos “media”, que por sua vez condicionam extraordinariamente o comportamento e logo a censura moral e social.
O desbragamento das actuações tem piorado as coisas de tal modo que já há juízes a prenderem polícias e soltarem ladrões, alunos a baterem nos professores e uma censura nos órgãos de comunicação social, feita de mil maneiras.
As consequências de tudo o que se passa são muito importantes, porque a feitura das leis, por ex., ( e lembro que a sociedade rege-se por estas), o exercício da autoridade, o grau de exigências nos comportamentos e na aprendizagem, etc., reflecte tudo isto.
Em segundo lugar, temos o “relativismo moral”. Nós passámos a construir a sociedade dando prioridade ao indivíduo e não ao grupo. O “eu” passou a ter mais importância do que o “nós”. Os aspectos materiais da vida passaram pouco a pouco a sobrelevar os espirituais; a religião e seus preceitos, foram atacados e ridicularizados; todas as instituições questionadas e postas em causa; a hierarquia rebaixada, as estruturas horizontalizadas, a autoridade considerada como um resquício fascistóide, etc.
Desenvolveu-se exponencialmente os conceitos de hedonismo, egoísmo, consumismo, conceitos libertários, internacionalismos, etc. tudo veio a desembocar no relativismo moral. Isto é, não há bem nem mal absoluto é tudo relativo às circunstâncias, aos desejos e, até, aos interesses.
Ora isto resulta na sociedade do vale tudo, onde não há Norte, não há referências, onde se deixou de saber distinguir o Bem do Mal, o Belo do Feio, a Verdade da Mentira, os Princípios das Conveniências.Venha o Rei!!
Não surpreende, portanto, que o actual Papa Bento XVI, tenha escolhido como principal tarefa da Igreja, o combate ao relativismo moral.
Finalmente, termos a teoria dos ovos fora do mesmo cesto.
Tem a ver, sobretudo, com o equilíbrio de poderes e no receio – ou conveniência -, que se espalhou, de não permitir autoridade em demasia a nenhum órgão de soberania ou até a outros com funções institucionais dentro do Estado.
Por isso é que existe a discussão permanente quanto à desejabilidade das maiorias absolutas dentro do Parlamento, dos poderes efectivos do Presidente da República; dos equilíbrios partidários nos órgãos supremos da Magistratura. Por isso é que as Forças Armadas não têm um chefe mas quatro; a Magistratura se degladia com a Procuradoria Geral da República e ambas com o Ministério da Justiça; as escolas não têm, um responsável, mas vários conselhos (directivo, pedagógico, científico, dos pais, dos alunos, etc.); a palavra do oficial não faz fé, nem a do agente de autoridade, e quase todas as decisões importantes dos ministros tem que obter um parecer de vários secretários de estado, dos verdes, dos amarelos, da associação xpto, etc. Parece que o Ministério da Defesa Nacional é que está dispensado de opinar se alguma coisa que se queira intentar fazer, pode pôr em causa aspectos de Defesa e Segurança!
De tudo isto resulta que o País se assemelha a um helicóptero em estacionário. Isto é, não tem resultante e, por isso, não sai do mesmo sítio.Venha, novamente o Rei!!
Grande parte destas ideias são oriundas e fermentaram, do célebre Maio de 68 em França e que se estenderam um pouco a toda a Europa Ocidental. Esta convulsão social revelou-se sobretudo desestruturante, do Estado, das tradições, das instituições, da família e dos valores tradicionais(pelo menos os que considero úteis e intemporais). Pouco edificou, embora tenha semeado sonhos e utopias. O seu epitáfio bem pode ser a célebre frase “é proibido proibir” …
A comunicação social e a intelectualidade vária que por aí assentou arraiais, têm condicionado psicologicamente o comum do cidadão, impedindo-o de reagir a este estado de coisas.
Cresceram os nossos pais a gritar:
"We don't need no education
We don't need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teachers leave them kids alone
Hey! Teacher! Leave them kids alone!
All in all it's just another brick in the wall
All in all you're just another brick in the wall
We don't need no education
We don't need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teachers leave them kids alone
Hey! Teacher! Leave us kids alone!
All in all you're just another brick in the wall
All in all you're just another brick in the wall
"Wrong, Do it again!"
"Wrong, Do it again!"
"If you don't eat yer meat, you can't have any
pudding. How can you
have any pudding if you don't eat yer meat?"
"You! Yes, you behind the bikesheds, stand still
lady!"
e podemos dizer...conseguiram.
Finalmente, coloca-se uma questão: a quem é que esta situação beneficia?Quem aproveita?
Mas isso é já assunto para outra analise, para outro post!
1 comentário:
Pedro,
Um post fantastico! E'certamente muito mais facil para muita gente seguir tradicoes sociais e religiosas, nao se questionar e apenas aceitar as coisas como os outros lhes dizem como sao. Esta mentalidade e' o resultado de decadas ou seculos de uma sociedade hierarquizada em que e a liberdade individual de pensamento e accao eram utopias. As questoes que mencionas da descentralizacao do poder, e da liberdade individual de cada um se questionar, pensar e ser estimulado a isso, leva certamente a que um poder central nao consiga mudar algo de um dia para o outro. Mas na realidade isto nunca e'possivel, pois para mudar algo verdadeiramente e' necessária uma aceitacao e enraizacao da ideia, o que leva o seu tempo. Uma imposicao de uma medida, apenas leva a que a contra-medida cresca e um dia exploda, tal como vemos hoje acontecer nos paises sujeitos a regimes dictatoriais.
É um desafio grande a liberdade individual e tem certamente o seu preco. Mas apesar disso tudo, a liberdade de poder questionar o que existe, a liberdade de poder ambicionar mudar algo e certamente a liberdade de poder discutir aqui estes conceitos sem receio de esta nao ser a versao oficial que temos de seguir, faz esta constante e lenta luta pela liberdade valer a pena!
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